O nascimento marca a união definitiva
entre o corpóreo e anímico-espiritual do novo individuo. Ao longo dos primeiros
anos de vida, corpo, alma e espírito formam uma unidade na criança. Nessa fase,
o corpo etérico constitui o elemento mais importante, pois ele atua plasmando,
formando o organismo a partir da cabeça e pouco a pouco se estende para o corpo
inteiro. É só gradativamente que está unidade se desfaz, enquanto isto, a
criança está entregue a seus processos vitais (alimentação, metabolismo, sono,
movimento descontrolado). Por esse motivo, ela é insciente e permeável à todas
as influências do mundo ambiente, como uma esponja que tudo absorve. Isso
significa que ela é um grande órgão sensório e que os processos vitais e outros
impulsos interiores se transmitem para fora num fluxo volitivo ininterrupto.
“A
PERMEABILIDADE DA CRIANÇA AO QUE SE ACHA EM SEU REDOR É UM FATO QUE TODO
EDUCADOR DEVERIA CONHECER E LEVAR EM CONTA”. Quanto mais inconsciente, mais a
criança absorve o que acontece ao seu redor, inclusive o caráter e os
sentimentos das pessoas que a rodeiam. Tudo a penetra e é absorvido pelo corpo
etérico. Este por sua vez, esta plasmando o corpo físico, seus órgãos. As
influências externas exercem, portanto, efeitos profundos sobre a organização
física e psíquica da criança que se farão sentir sobre toda a vida futura deste
ser. Essas influências abrangem desde o aspecto do quarto, com móveis e adornos,
até os pensamentos e sentimentos das pessoas que lidam com a criança. Tudo está
atuando sobre ela.
Em
sua inconsciência, a criança IMITA o que percebe, desde seu comportamento, modo
de falar, maneiras à mesa, gestos até padrões de pensamento. Mais tarde, quando
a imitação se tornará mais consciente, a criança imitará a mãe em seus afazeres
domésticos, brincará de vendedor, de médico, de família, num impulso
irresistível para imitar.
É
um crime destruir esse seu pequeno mundo por meio de comentários irônicos ou
interrupções intempestivas, pois essa é realidade que a criança vive.
Sabendo
que a imitação e o exemplo são os motivos básicos de todo o comportamento
infantil, o educador tem em suas mãos a chave de ouro para realizar sua tarefa.
Não é, pois, por meio de preceitos morais e explicações de toda espécie que se
educa a criança pré-escolar, mas sim, por meio da IMITAÇÃO, pelo exemplo e pelo
ambiente. A própria maneira de falar e pensar da criança baseia-se na imitação.
Os pais que desejam ver seus filhos falarem corretamente deve começar a falar
corretamente em sua presença. INSCONSCIENTEMENTE, A CRIANÇA ESPERA DOS ADULTOS
QUE SEJAM MODELOS EM TUDO.
O
adulto deve trabalhar constantemente sobre si mesmo a fim de eliminar
unilateralidades, falhas ou excessos que possam ter efeitos negativos sobre
seus educandos. O que a criança deveria ter em primeiro lugar é um ambiente
cheio de carinho e amor. Assim como o leite materno o protege o recém-nascido
contra a substancialidade, a figura materna protege-o contra a frieza do
ambiente, dando-lhe aconchego e calor.
Se
as impressões acontecem de fora para dentro, o fluxo da vontade na criança vem
de dentro para fora; sem barreiras nem inibições ela exterioriza o que se passa
em interior: gestos, mímica, a passagem do choro para riso e vice-versa, o
prazer de correr, subir em árvores, de escorregar, etc. tudo isto demonstra a
força irresistível de impulsos motores que merecem o nome de VONTADE. A criança
pequena é um ser no qual prepondera a vontade e isto é o que o que conduz a
criança a movimentos e a conquista do espaço. Ela se ergue, anda, equilibra-se,
aprende a usar seu corpo pulando, correndo, engatinhando, subindo em cadeiras,
mesas, árvores, ELA TREINA INCANSAVELMENTE SEU SISTEMA MOTOR. Percebe-se este
fenômeno no desenho infantil, rabiscos retos ou circulares, oriundos da
motricidade de suas mãos, para onde converge a vontade contida no corpo inteiro.
ESSE
DINAMISMO NÃO DEVE VIÇAR. O educador nunca o inibirá, mas o conduzirá pouco a
pouco a regularidade rítmica que se assemelhará a uma respiração composta de
sístole e diástole. As regularidades ao longo do dia como horário rítmico para
jogos, refeições, descanso e pequenas cerimônias, HARMONIZAM A VONTADE que, sem
isso, tende a ficar caótica.
O adulto que só valoriza
atividades intelectuais tende a desprezar a infância, considerando-a como uma
fase preparatória, de brincadeira e de vida irresponsável. Ora, em seus primeiros
três anos de vida a criança aprende mais do que em todos os seus estudos acadêmicos
(Jean Paul). Se pensarmos apenas no andar ereto, no falar e no pensar,
conquistas que a criança realiza antes do término de seu terceiro ano de vida,
temos que é o aprendizado que dá fundamento a existência humana, em oposição a
vida animal e, essas três atividades só podem ser aprendidas em contato com
outros seres humanos.
Fonte: A Pedagogia Waldorf - Ruldof Lanz