segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A Educação no Primeiro Setênio - parte I


                   O nascimento marca a união definitiva entre o corpóreo e anímico-espiritual do novo individuo. Ao longo dos primeiros anos de vida, corpo, alma e espírito formam uma unidade na criança. Nessa fase, o corpo etérico constitui o elemento mais importante, pois ele atua plasmando, formando o organismo a partir da cabeça e pouco a pouco se estende para o corpo inteiro. É só gradativamente que está unidade se desfaz, enquanto isto, a criança está entregue a seus processos vitais (alimentação, metabolismo, sono, movimento descontrolado). Por esse motivo, ela é insciente e permeável à todas as influências do mundo ambiente, como uma esponja que tudo absorve. Isso significa que ela é um grande órgão sensório e que os processos vitais e outros impulsos interiores se transmitem para fora num fluxo volitivo ininterrupto.
                
               “A PERMEABILIDADE DA CRIANÇA AO QUE SE ACHA EM SEU REDOR É UM FATO QUE TODO EDUCADOR DEVERIA CONHECER E LEVAR EM CONTA”. Quanto mais inconsciente, mais a criança absorve o que acontece ao seu redor, inclusive o caráter e os sentimentos das pessoas que a rodeiam. Tudo a penetra e é absorvido pelo corpo etérico. Este por sua vez, esta plasmando o corpo físico, seus órgãos. As influências externas exercem, portanto, efeitos profundos sobre a organização física e psíquica da criança que se farão sentir sobre toda a vida futura deste ser. Essas influências abrangem desde o aspecto do quarto, com móveis e adornos, até os pensamentos e sentimentos das pessoas que lidam com a criança. Tudo está atuando sobre ela.

                Em sua inconsciência, a criança IMITA o que percebe, desde seu comportamento, modo de falar, maneiras à mesa, gestos até padrões de pensamento. Mais tarde, quando a imitação se tornará mais consciente, a criança imitará a mãe em seus afazeres domésticos, brincará de vendedor, de médico, de família, num impulso irresistível para imitar.

                É um crime destruir esse seu pequeno mundo por meio de comentários irônicos ou interrupções intempestivas, pois essa é realidade que a criança vive.

                Sabendo que a imitação e o exemplo são os motivos básicos de todo o comportamento infantil, o educador tem em suas mãos a chave de ouro para realizar sua tarefa. Não é, pois, por meio de preceitos morais e explicações de toda espécie que se educa a criança pré-escolar, mas sim, por meio da IMITAÇÃO, pelo exemplo e pelo ambiente. A própria maneira de falar e pensar da criança baseia-se na imitação. Os pais que desejam ver seus filhos falarem corretamente deve começar a falar corretamente em sua presença. INSCONSCIENTEMENTE, A CRIANÇA ESPERA DOS ADULTOS QUE SEJAM MODELOS EM TUDO.

                O adulto deve trabalhar constantemente sobre si mesmo a fim de eliminar unilateralidades, falhas ou excessos que possam ter efeitos negativos sobre seus educandos. O que a criança deveria ter em primeiro lugar é um ambiente cheio de carinho e amor. Assim como o leite materno o protege o recém-nascido contra a substancialidade, a figura materna protege-o contra a frieza do ambiente, dando-lhe aconchego e calor.

                Se as impressões acontecem de fora para dentro, o fluxo da vontade na criança vem de dentro para fora; sem barreiras nem inibições ela exterioriza o que se passa em interior: gestos, mímica, a passagem do choro para riso e vice-versa, o prazer de correr, subir em árvores, de escorregar, etc. tudo isto demonstra a força irresistível de impulsos motores que merecem o nome de VONTADE. A criança pequena é um ser no qual prepondera a vontade e isto é o que o que conduz a criança a movimentos e a conquista do espaço. Ela se ergue, anda, equilibra-se, aprende a usar seu corpo pulando, correndo, engatinhando, subindo em cadeiras, mesas, árvores, ELA TREINA INCANSAVELMENTE SEU SISTEMA MOTOR. Percebe-se este fenômeno no desenho infantil, rabiscos retos ou circulares, oriundos da motricidade de suas mãos, para onde converge a vontade contida no corpo inteiro.

                ESSE DINAMISMO NÃO DEVE VIÇAR. O educador nunca o inibirá, mas o conduzirá pouco a pouco a regularidade rítmica que se assemelhará a uma respiração composta de sístole e diástole. As regularidades ao longo do dia como horário rítmico para jogos, refeições, descanso e pequenas cerimônias, HARMONIZAM A VONTADE que, sem isso, tende a ficar caótica.

                O adulto que só valoriza atividades intelectuais tende a desprezar a infância, considerando-a como uma fase preparatória, de brincadeira e de vida irresponsável. Ora, em seus primeiros três anos de vida a criança aprende mais do que em todos os seus estudos acadêmicos (Jean Paul). Se pensarmos apenas no andar ereto, no falar e no pensar, conquistas que a criança realiza antes do término de seu terceiro ano de vida, temos que é o aprendizado que dá fundamento a existência humana, em oposição a vida animal e, essas três atividades só podem ser aprendidas em contato com outros seres humanos. 

Fonte: A Pedagogia Waldorf - Ruldof Lanz

domingo, 23 de setembro de 2012

A consciência do “Eu” e a fase da “birra”

O momento da primeira recordação situa-se na evolução normal, no terceiro ano de vida. Antes disso a criança já teve muitas vivências: falou, reagiu, fez muitas coisas que revelaram sua própria vida anímica. Contudo, ela não tinha consciência de seu próprio eu. O momento em que esta consciência desperta é perceptível exteriormente. Até então a criança tinha designava a si própria por seu nome. Chamava-se “Joãozinho” ou “Pedrinho” da mesma maneira como havia aprendido a designar também outras pessoas ou objetos. Isso evidenciava que ela ainda não fazia distinção entre si e os outros conteúdos ou objetos.  Depois, porém, a consciência do próprio eu despertou como algo diferente de todas as outras coisas do mundo.
A criança começa a realizar a SEPARAÇÃO ENTRE O MUNDO E O EU. De repente a criança surpreende as pessoas ao seu redor dizendo “Eu também geléia”, enquanto um dia antes ainda dizia “Joãozinho também geléia”.
            O momento da primeira pronúncia do “eu” é um marco na evolução da criança. É também até essa época que remonta a primeira recordação de fatos relacionados com o eu.
            Juntamente com o despertar da consciência do eu, que é uma separação entre o eu e o resto do mundo, surge também a TENDÊNCIA A DIZER “NÃO” frente ao mundo exterior. A consciência do eu desenvolve-se, nessa época, opondo-se a ele. É o momento em que o homem é capaz de dizer “não”. A fase do “não”, que aparece por volta do terceiro aniversário é também chamada “a idade da birra”, durando geralmente por alguns meses. Em seguida, tendo-se firmado suficientemente, o eu se experimenta a si próprio mesmo quando não precisa opor-se ao mundo. É engraçado ouvir um pequeno retrucar “Eu não quero ir para a cama”, ou “Eu não quero fazer pipi”, gritando enquanto aperta desesperadamente as pernas.
            A idade da birra faz despertar o educador, que precisa conseguir, com muita paciência e tato, que os pequenos atos do dia-a-dia sejam cumpridos sem provocar desnecessariamente a oposição da criança. Aqui só é de ajuda desviar a atenção do objeto de resistência. O adulto deveria impor sua vontade apenas em caso de absoluta necessidade, sabendo suportar este período com paciência, pois é passageiro e, alegrando-se com esse despertar na criança.
            A consciência do eu se exercita pela oposição ao mundo ambiente. O adulto se opõe ao mundo formando seu próprio julgamento; à criança só resta dizer “Não quero”.
            No decorrer dos anos que seguem à idade da birra, a consciência do eu continua de duas maneiras. Primeiro se torna paulatinamente continua; em seguida se desloca uma ação contra o mundo para uma formação de juízo interior sobre ele. Esses processos realizam-se até os seis anos, ao ponto de permitir à criança ir para a escola. Aí a continuidade da consciência do eu é uma premissa para o aprendizado, onde também começa a desenvolver-se o juízo.

Fonte: Desvendando o Crescimento – As Fases Evolutivas da Infância e da Adolescência – Bernard Lievegoed

terça-feira, 26 de julho de 2011

A Influência da Mídia no Desenvolvimento Anímico-espiritual da Criança

Nos últimos anos cresceu assustadoramente a violência entre os mais jovens e até mesmo a violência infantil.
Em pesquisas realizadas nos últimos anos, relacionando a mídia com seus efeitos, fica clara a atuação nociva, perturbando o desenvolvimento anímico-espiritual das crianças. Num breve resumo de uma dessas pesquisas, Buddemeier (Antroposófica, 2009) aponta muitos prejuízos: a passividade, o enfraquecimento da imaginação, a inoculação de imagens, mensagens camufladas e o despertar precoce da consciência.
Na primeira infância, a criança está em pleno desenvolvimento do corpo físico. Andar, correr, pular, subir e descer, são atividades que conduzem ao equilíbrio e ao crescimento sadio, importante para a fase que se seguirá (o segundo setênio). O movimento é importante inclusive para o desenvolvimento da fala e, por conseguinte, do pensar.
A passividade em frente à TV, independente do programa, faz com que o corpo acumule energia que precisa ser posta para fora através do movimento; na seqüência, a criança ficará muito mais agitada, querendo extravasar a energia acumulada, causando-lhe um dano interno muito grande.
A criança é um órgão sensório e é através dos sentidos que ela capta e vivencia o mundo. Se tomarmos aqui um exemplo de uma criança que se encontra frente a uma paisagem real, temos que ela pode sentir o aroma, pisar na terra, de repente ver algo que atrai sua atenção e desviar o olhar, sentir o calor ou a brisa, enfim, todos os sentidos trabalham em conjunto. Isto não acontece na TV, pois ali, o olhar está fixo num único ponto luminoso, sem movimento e, a corrente sanguínea se modifica conforme um momento de êxtase ou repouso, artificialmente, ocorrendo um desequilíbrio de sentidos e até mesmo físico, já que o nervo ocular (assim como todo nosso corpo) precisa ser trabalhado sob várias direções desde cedo.
Imaginação
A imaginação é fundamental para o desenvolvimento anímico e fortalecimento das forças vitais da criança (também chamado corpo etérico e forças plasmadoras); tudo deve ser passível de transformação para sua rica e colorida vida anímica. Quando damos-lhes algo pronto, acabado, seja um brinquedo ou uma imagem na TV, sua imaginação já está sendo sacrificada e sua consciência sendo prematuramente desperta.
Além disso, sua vontade é quase totalmente reprimida, pois tudo o que a criança vivencia acontece sem sua contribuição, seu “Eu” é excluído desses acontecidos, e sua participação, impossibilitada.
As imagens aceleradas da TV exigem o uso do pensar. Quando o pensar é requerido, um desvio muito grande de energia ocorre na criança para aquilo que está sendo trazido à sua consciência. No físico, as conseqüências são cansaço, palidez, desmotivação, falta de vontade.
Inoculação de Imagens
A Intensificação de tudo o que já foi dito, que não é pouco, acontece quando analisamos os conteúdos da mídia. A contemplação de cenas de violência, mesmo aquelas com aparência tão inofensivas quanto a dos desenhos animados, causa na alma um efeito comparável ao da vacina no organismo. Essas cenas provocam, no plano anímico, a imunidade contra a violência real.  
À primeira vez assistida, uma cena violenta pode provocar horror, no entanto, a presença constante dessas cenas, passa a diversão e tem-se início o processo de vacinação. A alma capta as cenas como “meia realidade” e a experiência de que na verdade nada aconteceu, muda o sentir da alma, quando então ela passa a ver estas cenas com prazer, perdendo parte da humanidade.
Nas crianças do primeiro setênio tem-se um efeito multiplicador, pois, são totalmente abertas ao mundo, recebendo e imitando logo em seguida, pois, a imitação é inerente a ela, faz parte de uma vontade inconsciente de fazer parte da vida (aliás, é a forma de educação nesta fase).
Além disso, as mensagens camufladas que dizem “o agressor é um herói”, “violência é garantia de sucesso”, “o uso da violência é legítimo”, são construídas através do enredo que acabam comprovando essas afirmações e impregnam a alma como uma hipnose.
Mensagens camufladas
Pelo modo fragmentado e ilusório como as imagens técnicas são produzidas, a mídia visual passa a estimular uma concepção materialista do mundo. Essas concepções têm efeito intensificado ao encontrar declarações da ciência como o “homem é uma máquina” ou um computador biológico. Com isso, basta um pequeno passo para que os escrúpulos em prejudicar se enfraqueçam.
As cenas de violências atuais
Outro elemento agravante é representado pelos jogos eletrônicos. O jogador participa do enredo, influencia o que acontece na tela. Com um controle ele pode apontar uma arma e atirar. Nos jogos atuais, ganha quem matar ou maltratar mais pessoas. Nas 1ª e 2ª guerras mundiais, há á uma estimativa que somente 15 a 20% dos soldados tiveram intenção consciente de matar suas vitimas; outros não atiraram ou miraram ao lado.
Na guerra do Vietnã, 95% dos soldados foram capazes de mater. Isso foi conseguindo substituindo nos treinos, o alvo por simuladores eletrônicos, do qual, surgiu o videogame. O mirar e o atirar rápido, foram feitos com tanta freqüência que, ao final, atuavam como reflexo.
A dificuldade de divulgação das poucas pesquisas nesta área é muito grande, pois, as empresas e a mídia tentam passar um resultado contrário, dizendo que os videogames estimulam a inteligência da criança.
Finalizando
Cabe uma pergunta crítica: porque a mídia desempenha um papel tão importante e porque as pessoas dedicam tanto tempo a ela? As respostas existem. No caso das crianças, como elas são todo movimento, não gostam do tédio. Os programas sabem disso e por isso tentam provocar nas crianças a mesma excitação de um brincar ao ar livre, mas como elas se cansam rápido das imagens prontas, há uma aceleração permanente e conteúdos cada vez mais extremos.
Crianças necessitam de um mundo adequado à infância e tem direito a ele. Em poucas décadas, os espaços naturais foram soterrados por concreto, edifícios e similares. Como substituto inventou-se o quarto de criança e neste tempo, ele é abarrotado de aparelhos e brinquedos eletrônicos que não podem ser visto como adequados à infância.
Os pais são outro problema. A maioria se entrega ao consumo da mídia, não constituindo exemplo para seus filhos. Além disso, muitos entregam a educação dos hábitos infantis aos programas infantis. Assim, temos programas, desenhos infantis e filmes que ensinam a ter amigos, a lavar as mãos, a dizer obrigado, a respeitar a natureza etc., quando estes ensinamentos deveriam vir da família, da imitação. É como se a educação fosse terceirizada, e mal-terceirizada.
Se no adulto, o uso da mídia pode atrofiar certas habilidades, na criança nem permite o surgimento delas.
Como seres perceptivos, quanto mais desenvolvidas as forças anímicas, quanto maior o interesse pelo mundo, mais intenso é o desejo de captar a essência por detrás da aparência e isto, impede que o ser se entregue ao materialismo.
O estímulo à criatividade, o brincar livre, o uso da imaginação e das habilidades físicas, um ambiente digno de imitação, tudo isso, a criança leva para toda a vida, aprendendo a tomar a vida em suas próprias mãos quando adultas, adquirindo ao mesmo tempo, proteção contra a dependência da mídia e de outras ofertas de consumo.

Para saber mais:
Mídia e Violência – Heinz Buddemeier – Editora Antroposófica
Criança Querida – Renate Keller Ignácio – Associação Comunitária Monte Azul – Editora Antroposófica

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Brinquedos incluídos na loja

As Bonecas Waldorf
As bonecas Waldorf respeitam e estimulam a imaginação da criança, pois, sua forma apenas sugere traços humanos, deixando espaço para os pequenos se espelharem e completarem esses traços com sua imaginação. 
Seu tamanho, forma, textura e peso permitem à criança a vivência com o real e o verdadeiro, numa relação de carinho e aconchego.




Cavalinhos
               Nova cor incluída: branca, com crina e
rabo marrom


 Cavalo de Pau
Para a criança que já
controla os movimentos
é uma alegria correr e
saltar no cavalo de pau







Bolas de Feltro
Na primeira infância a criança é ritmo e movimento. Seus órgãos estão sendo plasmados e tudo o que a circunda é plasmado com ela.
Por ser tão intenso este ritmo interno, a criança procura brincar com aquilo que a traduz, por isso, o encantamento com a água, a areia e as bolas.
A água e a areia são tão maleáveis quanto os pequenos, possibilitando a criação ilimitada; a bola, em seu vai-e-vem, representa o ritmo. É um brinquedo simples e completo para elas.




quarta-feira, 1 de junho de 2011

Histórias e Contos para a Época de São João

Os contos são presentes, alimentos anímicos que podemos dar às crianças como parte de seu ritmo no primeiro setênio. As histórias podem ser contadas por um ciclo de 28 dias para que, a cada dia, a criança acolha e vivencie uma parte do conto, lentamente.

No inverno, temos a época de São João trazendo a história da "Menina da Lanterna", que busca sua luz interior. Este conto, representa os seres humanos, que aqui estão passando por suas experiências terrenas e diante das dificuldades podem sentir-se desorientados ou sem sem rumo. Para reencontrar a luz,  empreende  uma busca de auto-conhecimento e dominío dos instintos básicos. 

Ao reencontrar o divino dentro de si (o acordar) retornam num gesto de doação, sendo luz para todos.


Foto: Quintal Mágico

A Menina da Lanterna
Era uma vez uma menina, que alegremente carregava a sua lanterna pelas ruas. De repente, chegou o vento, que com grande ímpeto apagou a lanterna da menina. -Ah! Exclamou a menina – Quem poderá reacender a minha lanterna? Olhou para todos os lados, mas não achou ninguém.
Apareceu, então, um animal muito estranho, com espinhos nas costas, de olhos vivos, que corria e se escondia muito ligeiro pelas pedras – Era um ouriço - Querido ouriço! Exclamou a menina – O vento apagou a minha luz. Será que você não sabe quem poderia acender a minha lanterna?
O ouriço disse a ela que não sabia e que perguntasse a outro, pois precisava ir para casa cuidar dos filhos.
A menina continuou caminhando e encontrou-se com um urso, em lenta caminhada, com uma cabeça enorme e um corpo pesado, desajeitado, grunhindo e resmungando. - Querido urso! – falou a menina- O vento apagou a minha luz. Será que você não sabe quem poderá acender minha lanterna? E o urso da floresta disse a ela que não sabia, que perguntasse a outro, pois estava com sono e ia dormir e repousar.
Surgiu então, uma raposa, caçando na floresta esgueirando-se entre o capim. Espantada, a raposa levantou seu focinho e, farejando, descobriu a menina. Indignada, a raposa dirigiu-se a ela e mandou que voltasse para casa porque a menina espantava os ratinhos.
Com tristeza, a menina percebeu que ninguém queria ajudá-la. Sentou-se numa pedra e chorou. Neste momento, surgiram estrelas que lhe disseram: - Pergunte ao sol, porque ele poderá ajudá-la. Depois de ouvir o conselho das estrelas, a menina criou coragem para continuar o seu caminho.
Finalmente, chegou a uma casinha, dentro da qual avistou uma mulher muito velha, sentada, fiando em sua roca. A menina abriu a porta, e cumprimentou a velha.
- Bom dia, querida vovó – disse ela. - Bom dia – respondeu a velha.
A menina perguntou se ela conhecia o caminho até o sol e se ela queria ir com ela, mas a velha disse que não podia acompanhá-la, porque ela fiava sem cessar e sua roca não poderia parar. Mas pediu à menina que descansasse um pouco, pois o caminho era muito longo. A menina entrou na casinha e sentou-se para descansar. Pouco depois, pegou sua lanterna e continuou a caminhada.
Mais para frente encontrou outra casinha no seu caminho, a casa do sapateiro. Ele estava sentado consertando muitos sapatos. A menina abriu a porta e cumprimentou-o. Perguntou, então, se ele conhecia o caminho do sol e se queria ir com ela procurá-lo. Ele disse que não podia acompanhá-la, pois tinha muitos sapatos para consertar. Deixou que ela descansasse um pouco, pois sabia que seu caminho era longo. A menina entrou e sentou-se para descansar. Depois que descansou, pegou a sua lanterna e continuou a caminhada.
Bem longe, avistou uma montanha muito alta. Com certeza, o sol mora lá em cima, – pensou a menina e pôs-se a correr, rápida com uma corsa. No meio do caminho, encontrou uma criança que brincava com uma bola. Chamou-a para que fosse com ela até o sol, mas a criança nem respondeu. Preferiu brincar com sua bola e afastou-se saltitando pelos campos.



Então, a menina da lanterna continuou sozinha o seu caminho. Foi subindo pela encosta da montanha. Quando chegou ao topo, não encontrou o sol.
-Vou esperar aqui, até o sol chegar – pensou a menina, e sentou-se na terra. Como estava muito cansada de sua longa caminhada, seus olhos se fecharam  e ela adormeceu. O sol já tinha avistado a menina há muito tempo. Quando chegou a noite, ele desceu até a menina e acendeu a sua lanterna.
Depois que o sol voltou para o céu, a menina acordou.
Oh! A minha lanterna está acesa! – exclamou e, com um salto, pôs-se alegremente a caminhar.
Na volta, reencontrou a criança da bola, que lhe disse ter perdido a bola, não conseguindo encontrá-la por causa do escuro. As duas crianças procuraram, então, a bola. Após encontrá-la, a criança afastou-se alegremente.
A menina da lanterna continuou o seu caminho até o vale e chegou à casa do sapateiro, que estava muito triste, na sua oficina. Quando viu a menina, disse-lhe que seu fogo tinha se apagado e suas mãos estavam frias, não podendo, portanto, trabalhar mais. A menina acendeu a lanterna do sapateiro, que agradeceu, aqueceu as mãos e pôde martelar e costurar os seus sapatos.
A menina continuou lentamente a sua caminhada pela floresta e chegou ao casebre da velha. Seu quartinho estava escuro. Sua luz tinha se consumido e ela não pôde mais fiar. A menina acendeu nova luz e a velha agradeceu, e logo sua roca girou sem parar, fiando, fiando, sem cansar.
Depois e algum tempo, a menina chegou ao campo e todos os animais acordaram com o brilho de sua lanterna. A raposinha, ofuscada farejou para descobrir de onde vinha tanta luz. O urso bocejou, grunhiu e tropeçando desajeitado, foi atrás da menina. O ouriço, muito curioso, aproximou-se dela e perguntou de onde vinha aquele vaga-lume gigante.
Assim, a menina voltou feliz para casa sempre cantando a sua canção.

domingo, 17 de abril de 2011

O Brincar Infantil

Na primeira infância, a criança está desenvolvendo seus sentidos e a vida anímica, sua imaginação e sua capacidade criativa, seu corpo físico e sua movimentação. Tudo isso é feito através do BRINCAR.

Hoje em dia as crianças estão perdendo este direito ao brincar, parece que tudo deve estar direcionado para um rendimento ou um conhecimento imediato.

No mundo infantil a palavra "pressa" deveria ser apagada. Leva-se tempo para crescer, por isso existe a infância, que deveria ser permeada pelo brincar criativo, movimentos e ritmos adequados, bom sono, boa alimentação, brincar em meio aos raios do sol, terra, água, árvores, areia e água. Dessa forma a criança tem a oportunidade de experimentar e vivenciar seu corpo, desenvolvendo agilidade, coordenação motora, noção de espaço, equilíbrio.

Na primeira infância, a criança trabalha intensamente sua individualidade espiritual dentro do corpo. Quando brinca, a criança ensaia para a vida adulta, aprende a viver e agir no mundo, andar, cair, levantar, não desistir, perseverar e conhece a alegria da conquista.

Acerca dos brinquedos, quanto mais simples, melhores desenvolverão as forças que estão sendo plasmadas na criança. Quanto mais primitivo e não muito sofisticado, mais oferecerá a possibilidade de uma atividade própria, pois a própria criança o completará ou modificará com sua fantasia. Qualquer monte de areia com o qual um  menino possa modelar casas, pontes, portões torres, com a possibilidade destruí-los quando quiser, é mil vezes melhor que um brinquedo mecânico com seus cubinhos rígidos e geometricamente exatos; galhos, pedras, folhas, bambus, podem se transformar naquilo que a criança quiser.

Quando um brinquedo é confeccionado, a verdade deve estar contido nele, a criança percebe o mundo pelos sentidos e não podemos iludi-los dando-lhes algo artificial. Materiais naturais como algodão, lã e madeira são texturas que transmitem calor, vida, humanidade.

Os apelos comerciais são muito grandes, mas será que o brinquedo pronto, acabado e moderno a estará beneficiando? Como pais-educadores temos a responsabilidade de questionar o que nos é oferecido e buscar compreender a criança que veio a nós com a alegre disposição de adentrar a vida com toda sua força criadora.

Adriana

Fonte:
A Natureza Anímica da Criança - Caroline Von Heydebrand
Brincadeiras Criativas para Seu Filho e Brinquedos Criativos para seu bebê/ Orientação pedagógica Waldorf/ Rudolf Steiner e brinquedos caseiros.  -  Christopher Clouder e Janni Nicol