terça-feira, 26 de julho de 2011

A Influência da Mídia no Desenvolvimento Anímico-espiritual da Criança

Nos últimos anos cresceu assustadoramente a violência entre os mais jovens e até mesmo a violência infantil.
Em pesquisas realizadas nos últimos anos, relacionando a mídia com seus efeitos, fica clara a atuação nociva, perturbando o desenvolvimento anímico-espiritual das crianças. Num breve resumo de uma dessas pesquisas, Buddemeier (Antroposófica, 2009) aponta muitos prejuízos: a passividade, o enfraquecimento da imaginação, a inoculação de imagens, mensagens camufladas e o despertar precoce da consciência.
Na primeira infância, a criança está em pleno desenvolvimento do corpo físico. Andar, correr, pular, subir e descer, são atividades que conduzem ao equilíbrio e ao crescimento sadio, importante para a fase que se seguirá (o segundo setênio). O movimento é importante inclusive para o desenvolvimento da fala e, por conseguinte, do pensar.
A passividade em frente à TV, independente do programa, faz com que o corpo acumule energia que precisa ser posta para fora através do movimento; na seqüência, a criança ficará muito mais agitada, querendo extravasar a energia acumulada, causando-lhe um dano interno muito grande.
A criança é um órgão sensório e é através dos sentidos que ela capta e vivencia o mundo. Se tomarmos aqui um exemplo de uma criança que se encontra frente a uma paisagem real, temos que ela pode sentir o aroma, pisar na terra, de repente ver algo que atrai sua atenção e desviar o olhar, sentir o calor ou a brisa, enfim, todos os sentidos trabalham em conjunto. Isto não acontece na TV, pois ali, o olhar está fixo num único ponto luminoso, sem movimento e, a corrente sanguínea se modifica conforme um momento de êxtase ou repouso, artificialmente, ocorrendo um desequilíbrio de sentidos e até mesmo físico, já que o nervo ocular (assim como todo nosso corpo) precisa ser trabalhado sob várias direções desde cedo.
Imaginação
A imaginação é fundamental para o desenvolvimento anímico e fortalecimento das forças vitais da criança (também chamado corpo etérico e forças plasmadoras); tudo deve ser passível de transformação para sua rica e colorida vida anímica. Quando damos-lhes algo pronto, acabado, seja um brinquedo ou uma imagem na TV, sua imaginação já está sendo sacrificada e sua consciência sendo prematuramente desperta.
Além disso, sua vontade é quase totalmente reprimida, pois tudo o que a criança vivencia acontece sem sua contribuição, seu “Eu” é excluído desses acontecidos, e sua participação, impossibilitada.
As imagens aceleradas da TV exigem o uso do pensar. Quando o pensar é requerido, um desvio muito grande de energia ocorre na criança para aquilo que está sendo trazido à sua consciência. No físico, as conseqüências são cansaço, palidez, desmotivação, falta de vontade.
Inoculação de Imagens
A Intensificação de tudo o que já foi dito, que não é pouco, acontece quando analisamos os conteúdos da mídia. A contemplação de cenas de violência, mesmo aquelas com aparência tão inofensivas quanto a dos desenhos animados, causa na alma um efeito comparável ao da vacina no organismo. Essas cenas provocam, no plano anímico, a imunidade contra a violência real.  
À primeira vez assistida, uma cena violenta pode provocar horror, no entanto, a presença constante dessas cenas, passa a diversão e tem-se início o processo de vacinação. A alma capta as cenas como “meia realidade” e a experiência de que na verdade nada aconteceu, muda o sentir da alma, quando então ela passa a ver estas cenas com prazer, perdendo parte da humanidade.
Nas crianças do primeiro setênio tem-se um efeito multiplicador, pois, são totalmente abertas ao mundo, recebendo e imitando logo em seguida, pois, a imitação é inerente a ela, faz parte de uma vontade inconsciente de fazer parte da vida (aliás, é a forma de educação nesta fase).
Além disso, as mensagens camufladas que dizem “o agressor é um herói”, “violência é garantia de sucesso”, “o uso da violência é legítimo”, são construídas através do enredo que acabam comprovando essas afirmações e impregnam a alma como uma hipnose.
Mensagens camufladas
Pelo modo fragmentado e ilusório como as imagens técnicas são produzidas, a mídia visual passa a estimular uma concepção materialista do mundo. Essas concepções têm efeito intensificado ao encontrar declarações da ciência como o “homem é uma máquina” ou um computador biológico. Com isso, basta um pequeno passo para que os escrúpulos em prejudicar se enfraqueçam.
As cenas de violências atuais
Outro elemento agravante é representado pelos jogos eletrônicos. O jogador participa do enredo, influencia o que acontece na tela. Com um controle ele pode apontar uma arma e atirar. Nos jogos atuais, ganha quem matar ou maltratar mais pessoas. Nas 1ª e 2ª guerras mundiais, há á uma estimativa que somente 15 a 20% dos soldados tiveram intenção consciente de matar suas vitimas; outros não atiraram ou miraram ao lado.
Na guerra do Vietnã, 95% dos soldados foram capazes de mater. Isso foi conseguindo substituindo nos treinos, o alvo por simuladores eletrônicos, do qual, surgiu o videogame. O mirar e o atirar rápido, foram feitos com tanta freqüência que, ao final, atuavam como reflexo.
A dificuldade de divulgação das poucas pesquisas nesta área é muito grande, pois, as empresas e a mídia tentam passar um resultado contrário, dizendo que os videogames estimulam a inteligência da criança.
Finalizando
Cabe uma pergunta crítica: porque a mídia desempenha um papel tão importante e porque as pessoas dedicam tanto tempo a ela? As respostas existem. No caso das crianças, como elas são todo movimento, não gostam do tédio. Os programas sabem disso e por isso tentam provocar nas crianças a mesma excitação de um brincar ao ar livre, mas como elas se cansam rápido das imagens prontas, há uma aceleração permanente e conteúdos cada vez mais extremos.
Crianças necessitam de um mundo adequado à infância e tem direito a ele. Em poucas décadas, os espaços naturais foram soterrados por concreto, edifícios e similares. Como substituto inventou-se o quarto de criança e neste tempo, ele é abarrotado de aparelhos e brinquedos eletrônicos que não podem ser visto como adequados à infância.
Os pais são outro problema. A maioria se entrega ao consumo da mídia, não constituindo exemplo para seus filhos. Além disso, muitos entregam a educação dos hábitos infantis aos programas infantis. Assim, temos programas, desenhos infantis e filmes que ensinam a ter amigos, a lavar as mãos, a dizer obrigado, a respeitar a natureza etc., quando estes ensinamentos deveriam vir da família, da imitação. É como se a educação fosse terceirizada, e mal-terceirizada.
Se no adulto, o uso da mídia pode atrofiar certas habilidades, na criança nem permite o surgimento delas.
Como seres perceptivos, quanto mais desenvolvidas as forças anímicas, quanto maior o interesse pelo mundo, mais intenso é o desejo de captar a essência por detrás da aparência e isto, impede que o ser se entregue ao materialismo.
O estímulo à criatividade, o brincar livre, o uso da imaginação e das habilidades físicas, um ambiente digno de imitação, tudo isso, a criança leva para toda a vida, aprendendo a tomar a vida em suas próprias mãos quando adultas, adquirindo ao mesmo tempo, proteção contra a dependência da mídia e de outras ofertas de consumo.

Para saber mais:
Mídia e Violência – Heinz Buddemeier – Editora Antroposófica
Criança Querida – Renate Keller Ignácio – Associação Comunitária Monte Azul – Editora Antroposófica

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